Como começar a escrever?
Escrevendo.
Sinto que tenho uma relação ansiosa com a escrita.
Antes de iniciar uma escrita, passo um longo tempo pensando nas possíveis milhões de coisas das quais posso escrever (neste momento do processo de escrita é onde geralmente fico desmotivada a escrever, eu poderia estender mais esse parêntese pra me justificar dizendo que a sensação que tenho é de que todo mundo já fez tudo que poderia ser feito na escrita, e estenderei mesmo. Sentir isso me faz acreditar que nada mais precisa ser dito, que, na verdade, as coisas têm que parar de serem ditas em excesso, que deve-se parar de exprimir impressões de tudo a todo tempo, porque essa poluição de escrita que enxergo causa poluição de pontos de vistas, muitas coisas se repetem, se complicam, ficam escassas, mais camadas são criadas e existe uma pressão social de que a gente tem que dar conta de tudo isso. Particularmente, por existirem momentos de crise de escrita como esta que exemplifiquei, me permito afastar desse conflito interno e tentar ver de fora, fazendo assim as pazes com a minha vontade de escrever), (na verdade, eu nem sei qual é o limite ou se existe um limite para a quantidade de informação que se pode agregar a um parêntese ou, quantos parênteses podem conter em um mesmo parágrafo, quem sabe até se um parágrafo pode ser tão longo assim. Acabei de perceber que fico me justificando, mas é por isso que abri um outro parêntese: para me justificar duplamente e expressar minha dúvida, já que agora nem sei mais se estou seguindo a norma da ABNT), geralmente não consigo escolher um tema especifico (já que muitas coisas se passam pela minha cabeça como você pode ter notado) então busco sensações e escrevo.
Após ler o que escrevi, apago.
Pensando melhor agora, eu poderia dizer que a minha relação com a escrita está mais para um relacionamento abusivo ou, no mínimo, reflexivo de mais.
Percebo que é muito mais fácil para mim, ler coisas escritas por outras pessoas e tomar notar ou levantar considerações sobre a escrita do outro. Eu penso: “nossa que palavra bonita”, “muito bem colocado”, “essa escolha em como organizar as palavras tornaram tudo mais significativo”, “será que eu saberia escrever bem assim?”.
Então, novamente, passo um longo período pensando sobre o que eu posso escrever, escrevo, leio e apago.
O que eu busco entender é: “Que chave virada é essa que me faz contemplar tanto a escrita do outro, mas não me autoriza a contemplar a minha escrita?”.
Minha relação com as palavras vêm de antes. Fui um bebê falante, uma criança irritante, um adolescente rebelde e hoje, um adulto reaprendendo a falar. E a palavra “falar” pode ainda ser adaptada para outros verbos como; chorar, rir, errar, acertar, largar, abraçar, calar, escrever.
Agora — enquanto estava corrigindo os erros ortográficos dos parágrafos acima — me ocorreu que a dificuldade em me permitir a escrita é algo bastante engraçado quando se leva em consideração o meu trabalho profissional. O mínimo que um artista pode esperar de si, é a sensibilidade para conseguir falar de algo que o atravessa, e mais, é importante saber escrever sobre isso também.
O que te faz contemplar uma escrita?
Recentemente descobri que é possível criar imagens com as palavras. Parece algo óbvio, mas pra mim não foi, pelo menos não de maneira consciente. Quando descobri que é possível criar imagens com as palavras minha mente gritou “ISSO É ARTE!”, como se todos os livros, textos, poemas já lidos anteriormente a esta descoberta não tivesse valido a pena.
A sensação de frio na barriga foi como estar em pé à beira de um penhasco com erosão no solo, com o vento cortando as células mortas da pele levando-as para a linha do horizonte, onde meus olhos estão aficionados admirando um mundo novo. E eu poderia, diante desta sensação, ter descido do penhasco e corrido em direção a este novo lugar, mas escolhi simplesmente pular.